Summary: | As sociedades contemporâneas e o seu imaginário são permeáveis às questões de Ciência e Tecnologia. Através do desenvolvimento de tecnologias emergentes como as nanociências e as nanotecnologias, assistimos à proliferação de cenários que vão desde utopias de prazer até distopias de controlo e manipulação. Apesar de actualmente estas nanotecnologias já estarem presentes em alguns produtos de consumo, a dimensão exploratória continua a ser a dominante. Existem preocupações explícitas dos actores envolvidos nas nanociências e nanotecnologias (os nanoenactors) em torno das suas implicações nos domínios da ética, sociedade e regulação, o que sugere a relação com o debate sobre biotecnologias, que decorria da criação de novos produtos. A novidade da discussão nanotecnológica reside em introduzir o debate público nos processos de investigação e desenvolvimento para que a nanotecnologia possa ser discutida e os riscos ou benefícios associados possam ser avaliados, juntamente com as consequências para a organização social. Este debate suscita a criação de espaços que possam incorporar os cidadãos, as suas preocupações, experiências, conhecimentos e diferentes concepções éticas.No âmbito do projecto europeu DEEPEN (Deepening Ethical Engagement and Participation in Emerging Nanotechnologies), foram exploradas metodologias que permitiram o envolvimento de cidadãos no debate e reflexão acerca das possíveis trajectórias destas tecnologias, e que criaram aquilo que alguns autores designam como ‘’éticas leigas’’. Através desta comunicação pretendemos dar a entender como decorreram estes exercícios que aliaram a metodologia dos Grupos de Discussão com diferentes públicos a algumas inovações inspiradas no trabalho de Paulo Freire e de Augusto Boal, e que resultaram na apresentação de cenários preparados pelos cidadãos que sugeriram recomendações para os decisores políticos. Com base nas suas performances e nas questões que surgiram ao longo das outras fases do exercício, iremos reflectir acerca da contribuição deste procedimento participativo para as políticas sociais na área da C&T e dos riscos suscitados por tecnologias emergentes cujas consequências a médio e longo prazo são muitas vezes desconhecidas.
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