Construir uma escola democrática e justa: o Arco Maior e a pedagogia da misericórdia

O insucesso escolar e a exclusão escolar mantêm-se elevados em Portugal, apesar de se ter verificado uma gigantesca recuperação do atraso escolar. Esse insucesso e exclusão deriva sobretudo dos referenciais com que se pensa a missão de integração cultural e de desenvolvimento humano de todas as cria...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Joaquim Azevedo
Format: Article
Language:English
Published: Universidade Católica Portuguesa 2016-01-01
Series:Revista Portuguesa de Investigação Educacional
Subjects:
Online Access:https://revistas.ucp.pt/index.php/investigacaoeducacional/article/view/3427
Description
Summary:O insucesso escolar e a exclusão escolar mantêm-se elevados em Portugal, apesar de se ter verificado uma gigantesca recuperação do atraso escolar. Esse insucesso e exclusão deriva sobretudo dos referenciais com que se pensa a missão de integração cultural e de desenvolvimento humano de todas as crianças e jovens na escola de hoje. A meritocracia escolar, que diferencia profundamente os alunos, apesar de a escola os declarar como iguais, não esgota o leque de referenciais em que se pode e deve repensar a missão da educação escolar. A educação escolar da modernidade, que entra pelo século XXI dentro, está a revelar-se simultaneamente uma escola “democrática”, porque acolhedora de todos os cidadãos, mas profundamente injusta, porque exclui uma boa parte deles. Defendo, na esteira da UNESCO (1996) e de vários pedagogos e filósofos, uma educação antropologicamente fundada, de rosto humanista e capaz de promover a multidimensionalidade humana e a diferença pessoal. Creio que só uma educação democrática promovida por uma escola justa estará em condições de cumprir esta missão, resgatando-a da racionalização instrumental e da progressiva asfixia epistemológica a que está a ser remetida pelas políticas públicas dominantes dos últimos decénios, que a subordinam a um eficientismo técnico-económico desumanizante. Revistas as teorias da justiça social e os enfoques de uma escola justa, apresento o Arco Maior: uma proposta socioeducativa para jovens excluídos do sistema escolar, na cidade do Porto, que tem conseguido, fora dos modelos tradicionais em que se pensa a educação escolar, pôr em prática uma “pedagogia da misericórdia”. Defendo que este referencial inovador permitirá ultrapassar alguns obstáculos a uma educação verdadeiramente justa e proporcionar, aos excluídos da escola, a reconstrução dos seus projetos de vida. O Arco Maior questiona substantivamente o “modo de produção escolar” que gera a exclusão e aí reside uma das suas forças.
ISSN:1645-4006
2182-4614