Vivendo com a guerra: uma entrevista com o Sr. A. Fortuna
Nos últimos anos, a área da teoria da memória de guerra tem-se desenvolvido enormemente, e a história oral tem sido uma das suas ferramentas mais poderosas para aceder a memórias pessoais e colectivas. Esta metodologia tem-se revelado fundamental na recuperação e/ou recolha de experiências de guerra...
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Fundação Getúlio Vargas
2009-06-01
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Series: | Estudos Históricos |
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doaj-5c60d3c4f5aa45f7a7a287cbd7edfedc2020-11-24T21:57:50ZengFundação Getúlio VargasEstudos Históricos2178-14942009-06-012243456410.1590/S0103-21862009000100003S0103-21862009000100003Vivendo com a guerra: uma entrevista com o Sr. A. FortunaÂngela Campos0University of SussexNos últimos anos, a área da teoria da memória de guerra tem-se desenvolvido enormemente, e a história oral tem sido uma das suas ferramentas mais poderosas para aceder a memórias pessoais e colectivas. Esta metodologia tem-se revelado fundamental na recuperação e/ou recolha de experiências de guerra, violência e trauma. Para alguns indivíduos, a guerra encontra-se sempre presente, é uma memória constante, indelével, visível nos seus corpos: quando um ex-combatente se encontra deficientado para toda a vida, tem de viver permanentemente com a guerra, e a sua experiência passada acaba necessariamente por determinar o seu percurso de vida futuro. Este artigo baseia-se no testemunho do Sr. A. Fortuna, um exemplo vivido desta realidade, um dos cerca de 30.000 ex-combatentes (Ribeiro, 1999) da Guerra Colonial Portuguesa (1961-1974) portadores de deficiência, entrevistado para um projecto de investigação de doutoramento sobre as memórias de veteranos deste conflito. Em 1971, o Sr. A. Fortuna, actualmente com 59 anos de idade, perdeu a visão e ambos os braços na Guiné-Bissau, algo que significou posteriormente uma vida inteiramente moldada pela guerra e pela sua deficiência. A memória relativa a este conflito - não obstante o facto de tratar-se de um evento incontornável da história portuguesa do século XX - continua, em grande medida, inexplorada. Alguns autores salientam que "a vergonha foi tal que, logo em 1974, [...] a Guerra Colonial foi cautelosamente varrida da memória colectiva" (Ribeiro, 1999), e os seus ex-combatentes encontram-se cobertos por um "sufocante manto de silêncio e de abandono" (Gomes, 2004), especialmente os deficientes de guerra, lembranças incómodas de uma guerra que o país parece não ter vontade de recordar. Tomando como ponto de partida a entrevista com o Sr. A. Fortuna, este artigo reflecte acerca de alguns dos desafios que um historiador oral tem de enfrentar quando entrevista veteranos de guerra deficientados. Pretende apresentar um exemplo de como a história oral pode ajudar a esclarecer um tópico menos visível da história portuguesa contemporânea.http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21862009000100003&lng=en&tlng=enmémoire de guerrehistoire oraleGuerre Coloniale Portugaise |
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Nos últimos anos, a área da teoria da memória de guerra tem-se desenvolvido enormemente, e a história oral tem sido uma das suas ferramentas mais poderosas para aceder a memórias pessoais e colectivas. Esta metodologia tem-se revelado fundamental na recuperação e/ou recolha de experiências de guerra, violência e trauma. Para alguns indivíduos, a guerra encontra-se sempre presente, é uma memória constante, indelével, visível nos seus corpos: quando um ex-combatente se encontra deficientado para toda a vida, tem de viver permanentemente com a guerra, e a sua experiência passada acaba necessariamente por determinar o seu percurso de vida futuro. Este artigo baseia-se no testemunho do Sr. A. Fortuna, um exemplo vivido desta realidade, um dos cerca de 30.000 ex-combatentes (Ribeiro, 1999) da Guerra Colonial Portuguesa (1961-1974) portadores de deficiência, entrevistado para um projecto de investigação de doutoramento sobre as memórias de veteranos deste conflito. Em 1971, o Sr. A. Fortuna, actualmente com 59 anos de idade, perdeu a visão e ambos os braços na Guiné-Bissau, algo que significou posteriormente uma vida inteiramente moldada pela guerra e pela sua deficiência. A memória relativa a este conflito - não obstante o facto de tratar-se de um evento incontornável da história portuguesa do século XX - continua, em grande medida, inexplorada. Alguns autores salientam que "a vergonha foi tal que, logo em 1974, [...] a Guerra Colonial foi cautelosamente varrida da memória colectiva" (Ribeiro, 1999), e os seus ex-combatentes encontram-se cobertos por um "sufocante manto de silêncio e de abandono" (Gomes, 2004), especialmente os deficientes de guerra, lembranças incómodas de uma guerra que o país parece não ter vontade de recordar. Tomando como ponto de partida a entrevista com o Sr. A. Fortuna, este artigo reflecte acerca de alguns dos desafios que um historiador oral tem de enfrentar quando entrevista veteranos de guerra deficientados. Pretende apresentar um exemplo de como a história oral pode ajudar a esclarecer um tópico menos visível da história portuguesa contemporânea. |
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