(In)alienabilidade em nomes compostos em Apurinã (Aruák)

Discute-se o status dos nomes compostos em Apurinã, quanto à possibilidade de ocorrerem em construções de posse (in)alienável, a partir de dados coletados usando estímulos contextuais até então não utilizados. Os dados coletados por meio do uso desses estímulos contextuais revelaram que se fazem ne...

Full description

Bibliographic Details
Main Authors: Marília Fernanda Pereira de Freitas, Sidney da Silva Facundes
Format: Article
Language:Portuguese
Published: Universidade Estadual de Campinas 2021-01-01
Series:Cadernos de Estudos Lingüísticos
Subjects:
Online Access:https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8661313
Description
Summary:Discute-se o status dos nomes compostos em Apurinã, quanto à possibilidade de ocorrerem em construções de posse (in)alienável, a partir de dados coletados usando estímulos contextuais até então não utilizados. Os dados coletados por meio do uso desses estímulos contextuais revelaram que se fazem necessárias revisões e ampliações na análise dos padrões de marcação de (in)alienabilidade em nomes compostos em Apurinã anteriormente proposta por Facundes (2000), segundo o qual esses padrões não se aplicariam aos compostos. Freitas (2017) parte das definições de Haspelmath (2008) e Stassen (2009) e define (in)alienabilidade em Apurinã tanto com base na marcação morfológica dos nomes, quanto na sua frequência de ocorrência em textos; nomes inalienáveis têm a posse como parte constitutiva de seus significados, ocorrem mais frequentemente possuídos em textos e são não marcados em construções de posse; dentre os inalienáveis, há i) inalienáveis que podem ter sua posse obrigatória “suspensa” pelo acréscimo do sufixo -txi, a exemplo de ny-tikaku (1SG-barriga.de) ‘minha barriga’/ tikaku-txi (barriga.de-N.POSSD) ‘barriga (não se sabe de quem)’; e ii) inalienáveis que não ocorrem com -txi, por exigirem um possuidor, a exemplo de n-yry (1SG-pai.de) ‘meu pai’, mas não *yry-txi (pai, não se sabe de quem)’. Já os nomes alienáveis ocorrem mais frequentemente não possuídos em textos, sendo marcados em construções de posse pelos sufixos -te, -ne, -re1 e -re2, lexicalmente condicionados, a exemplo de ny-xamynaky-te (1SG-espingarda-POSSD)/ xamynaky ‘espingarda’. Os resultados da análise permitiram concluir que, ao mesmo tempo em que os padrões de marcação de (in)alienabilidade aplicam-se aos nomes compostos produtivos, eles também indicam que os nomes compostos produtivos marcados como (in)alienáveis são usados em contextos mais específicos e menos frequentes no cotidiano, ou em neologismos, e que, portanto, eles não se comportam pragmaticamente como os nomes (in)alienáveis mais prototípicos em Apurinã.
ISSN:2447-0686