Relação, encontro e reciprocidade: algumas reflexões sobre a ética no cinema documentário contemporâneo Relations, encounters and reciprocity: reflections about ethics in contemporary

Um dos traços mais marcantes do cinema documentário é a sua vocação para tratar do outro, para ter a alteridade como centro de sua construção. Subjacente a esta última, há o evento sem o qual o filme não existe: o encontro entre o cineasta e as pessoas filmadas. Qualquer apreciação sobre as condiçõe...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Marcius Freire
Format: Article
Language:English
Published: Pontíficia Universidade Católica de São Paulo 2008-11-01
Series:Galáxia
Subjects:
Online Access:http://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/article/view/1484
Description
Summary:Um dos traços mais marcantes do cinema documentário é a sua vocação para tratar do outro, para ter a alteridade como centro de sua construção. Subjacente a esta última, há o evento sem o qual o filme não existe: o encontro entre o cineasta e as pessoas filmadas. Qualquer apreciação sobre as condições em que se deu esse encontro deve ter como pressuposto básico que aquele que empunha a câmera detém um poder inquestionável sobre os sujeitos de sua mirada. Independentemente dos procedimentos de compartilhamento desse poder, em voga já há algum tempo, como distribuição de câmeras aos sujeitos observados, ou da bem mais antiga antropologia partilhada de Jean Rouch, em que o filme toma forma a partir da devolução às pessoas filmadas das imagens registradas e do diálogo que se estabelece entre elas e o cineasta, esse poder está sempre lá, pois, em sua quase totalidade, a edição final dos filmes fica nas mãos do realizador. É sobre essa relação de força e seus desdobramentos, e os aspectos éticos e estéticos a ela subjacentes, que nos debruçaremos. Relations, encounters and reciprocity: reflections about ethics in contemporary documentary cinema — One of the most noteworthy features of documentary cinema is its ability to deal with the other, to have otherness at the core of its construction. Underlying this is the event without which a movie does not exist: the encounter between the filmmaker and the people he films. Any appreciation of the conditions in which this encounter takes place must be based primarily on the assumption that the person holding the camera wields unquestionable power over those targeted by the camera's viewfinder. This power is always present, independently of the procedures involved in sharing it, which have been in fashion for some time — such as distributing cameras to the subjects under observation, or the much older "shared anthropology" of Jean Rouch, in which the film takes shape by returning the recorded images of the filmed people to them and by means of the dialogue between them and the filmmaker. This is because the final edition of the film is almost entirely in the hands of the filmmaker. We focus here on this "rapport de force" and its unfoldings, and on its underlying ethical and esthetic aspects.
ISSN:1519-311X
1982-2553