Redes de cooperação no pequeno varejo : a construção social dos mercados de hortifrutigranjeiros no Rio Grande do Sul

O presente trabalho investigou os principais fatores que levaram parte dos pequenos comerciantes do varejo alimentar a construírem redes de cooperação, a influência destas organizações na estruturação dos varejos locais e as repercussões destes processos sobre os produtores e a produção local de hor...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Souza, Marcelo Santos de
Other Authors: Almeida, Jalcione Pereira de
Format: Others
Language:Portuguese
Published: 2010
Subjects:
Online Access:http://hdl.handle.net/10183/18312
Description
Summary:O presente trabalho investigou os principais fatores que levaram parte dos pequenos comerciantes do varejo alimentar a construírem redes de cooperação, a influência destas organizações na estruturação dos varejos locais e as repercussões destes processos sobre os produtores e a produção local de hortigranjeiros (FLV). Buscou-se na sociologia econômica, em especial na desenvolvida por Pierre Bourdieu e Neil Fligstein, a teoria e os conceitos básicos para a análise do fenômeno do surgimento destas organizações no contexto da construção social dos mercados locais de alimentos. Através deste arcabouço teórico estudouse como as disposições dos atores do pequeno varejo são condicionadas pelo campo do varejo local, bem como a forma como as suas práticas também influenciam a estruturação destes espaços. A pesquisa empírica é composta por dois estudos de caso no Rio Grande do Sul: o campo do varejo de Santa Maria, na região central do estado, onde foram estudas as redes de cooperação Rede Super e a Unimercados; e o campo do varejo de Santa Rosa, situada na região noroeste do estado, onde foi estudada a rede de cooperação CNS. Além das redes, foram estudados os principais atores com os quais elas se relacionam, no caso os supermercados Carrefour e a empresa supermercadista Rede Vivo, ambas concorrentes das redes de Santa Maria; e as organizações dos agricultores que fornecem FLV para as redes e outras empresas, APRHOROSA (associação de produtores de FLV de Santa Rosa) e a Coopercedro (cooperativa de produtores de FLV de Santa Maria). Entre as conclusões do trabalho está a confirmação da importância da teoria sobre a construção social dos mercados para revelar a transformação das disposições dos atores e as suas causas, bem como a influência das mudanças no comportamento dos mesmos nas relações entre varejo e fornecedores, com destaque para os produtores locais. A invasão dos varejos locais por grandes cadeias supermercadistas condicionou os pequenos varejistas que apresentavam disposição para participar do jogo do varejo a organizarem-se em redes a fim de conseguirem preservar suas posições estruturais. Os que não tinham tal disposição, bem como os que não contavam com recursos (capital) para enfrentar as pressões do campo de poder, tornaram-se marginalizados. Quanto a quem são os construtores das redes, concluiu-se que se tratam de pequenos comerciantes dinâmicos, que não têm habitus de comerciantes tradicionais, mas de comerciantes sintonizados com as transformações do campo. Uma segunda conclusão importante é a de que o pequeno varejo que emerge com as redes é plenamente integrado às regras e à cultura dos varejos locais em que participam, tanto nas práticas de relacionamento com os concorrentes, quanto com os fornecedores. Por outro lado, o pequeno varejo tradicional e as feiras livres se enfraquecem na medida em que tentam sobreviver disputando o mesmo espaço das redes, porém com práticas defasadas. Por fim, quanto à questão central da tese referente à inserção dos agricultores familiares no varejo estruturado moderno, concluiu-se que eles necessitam acima de tudo fortalecer-se nas relações de poder, o que envolve agregação de capitais comercial, tecnológico, cultural, simbólico e principalmente social. Desta forma eles podem ser reinseridos no mercado e a trajetória a partir de então tende a transformar seu habitus, lentamente, como ocorreu com os pequenos comerciantes varejistas na sua trajetória na construção do varejo local com a rede. === The present work investigates the main factors what drove some of small retailer’s merchant of food retail to create cooperation networks. Besides, it investigates also the influence of these organizations as they structure local retails furthermore the repercussions of these processes over the producers and the local fresh fruits and vegetables production (FLV). It was examined in the economical sociology; especially the one developed by Pierre Bourdieu and Neil Fligstein, the theory and the basic concepts for the phenomenon analysis of these organizations appearance in the social construction context of foods their local markets. Through this theoretical outline it was studied how the actors dispositions of small retail are conditioned by the local retail field, as well as the way how their practices also influence these spaces organization. The empiric research is composed by two case studies in Rio Grande do Sul state: first, the Santa Maria's retail field, in the state central area, where it was studied the cooperation networks such as Rede Super and Unimercados; second, the Santa Rosa's retail field, located in the northwest area of the state, where it was studied the CNS cooperation network. Besides the networks, it was studied as well, the main actors what they are connected with, in this case: firstly, Carrefour and Rede Vivo companies, both competitors of Santa Maria's networks; secondly, the farmer's organizations what supply fresh fruits and vegetables to the networks, and also to other companies such as: APRHOROSA (producer's association of fresh fruits and vegetables of Santa Rosa) and Coopercedro (producer's cooperative of fresh fruits and vegetables of Santa Maria). It is among the conclusions of this work the confirmation of the importance about market's social construction theory to reveal the transformation of the actor's (small retailer's merchant and suppliers) dispositions and their causes, as well as the influence of changes in the behavior of these actors in the relationships between retail and suppliers, emphasizing the local producers. The invasion of the local retails by big supermarket chains has conditioned the small retailer's merchant who presented willingness to participate of the retail game; they organized themselves in networks in order to preserve their structural position. Not only the ones who did not have such willingness, but also the ones who did not reckon upon resources (capital) to face the pressures of power field, they became marginalized. As first main conclusion about who the networks builders are, showed as consequence that it is about small dynamic merchants, who do not have traditional merchants habit, but, in fact, they are merchants tuned with the transformations of the field. As second important conclusion, is the one the small retail which emerges together with the networks is fully integrated to local retails rules and culture in which they participate, not only in the relationship practices with the competitors, but also with the suppliers. On the other hand, the small traditional retail and the open air markets weaken as they try to survive disputing the same space with the networks, however with delayed practices. Finally, concerning to the central subject matter of this paper regarding the family farmers' insert in the structured and modern retail, it is concluded they need, above all, to strengthen themselves about power relationships, what involve commercial, technological, cultural, symbolic and mainly social aggregation of capitals. This way they can be reinserted in the market and the path starting from then tends to transform their habit, slowly, similarly it has happened to the small retailer's merchant in their path to the construction of the local retail with the network.