Incidência de demência e comprometimento cognitivo leve e identificação de preditores numa amostra de base populacional
Introdução: Com o envelhecimento da população mundial projeta-se o crescimento das taxas de doenças potencialmente relacionadas à idade como as demências, especialmente a doença de Alzheimer (DA). Os sujeitos com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) são considerados uma população de risco para desen...
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2013
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Demência Doença de Alzheimer Comprometimento cognitivo leve Dementia Alzheimer’s disease Mild cognitive impairment Mild cognitive impairment of Alzheimer type Conversion rate Prodromal AD Epidemiology Godinho, Claudia da Cunha Incidência de demência e comprometimento cognitivo leve e identificação de preditores numa amostra de base populacional |
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Introdução: Com o envelhecimento da população mundial projeta-se o crescimento das taxas de doenças potencialmente relacionadas à idade como as demências, especialmente a doença de Alzheimer (DA). Os sujeitos com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) são considerados uma população de risco para desenvolver demência, no entanto, as taxas de incidência de CCL e conversão para demência apresentam considerável variabilidade em parte atribuída a características da amostra e aos diferentes critérios utilizados. Objetivos: Determinar a incidência de demência e Comprometimento Cognitivo Leve em uma coorte de idosos saudáveis de base comunitária; determinar as variáveis demográficas, clínicas e sociais associadas ao desenvolvimento de prejuízo cognitivo, e avaliar o risco de progressão dos indivíduos com Comprometimento Cognitivo Leve para demência comparada com sujeitos cognitivamente normais. Métodos: Os dados foram derivados de uma coorte de idosos residentes na comunidade (N = 345), inicialmente saudáveis e independentes (Estudo PALA - Porto Alegre Longitudinal Aging - study). O seguimento inicial com duração máxima de oito anos teve o objetivo de avaliar a incidência de DA e CCL. Para avaliar a progressão de CCL para DA partimos de 10 anos de seguimento, incluindo os oito anos da primeira análise e consideramos um máximo de 70 meses (média de 45 meses) para avaliar a ocorrência dos novos desfechos. Os participantes que preencheram os critérios de inclusão do estudo e consentiram em participar foram avaliados com uma detalhada entrevista clínica composta de variáveis demográficas, clínicas e sociais. Os sintomas psiquiátricos foram avaliados pela escala SRQ - Self Report Questionnaire, escala MADRS - Montgomery-Asberg Depression Rating Scale e aplicados os critérios para depressão maior do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (4ª Edição; DSM-IV). O Mini Exame do Estado Mental (MEEM) e a Escala Clínica de Demência (CDR – Clinical Dementia Rating) foram aplicados para avaliação cognitiva. Adicionalmente a independência para as atividades da vida diária foram acessadas pela escala ADL - Activities of Daily Living. Para diagnóstico dos casos incidentes de doença de Alzheimer foi utilizado os critérios diagnósticos do DSM-IV e do NINCDS/ADRDA, associado à descrição dos critérios de Kawas para DA consistente. Para diagnóstico de Comprometimento Cognitivo Leve, o critério da Clínica Mayo foi aplicado para a primeira análise, e o critério para CCL do tipo Alzheimer (ou DA prodrômica) foi utilizado para a segunda análise tendo em vista a incorporação de dados disponíveis e a evolução dos critérios. As trajetórias possíveis do CCL foram classificadas em três categorias: conversão, estabilização e reconversão. Os sujeitos considerados para a primeira análise - casos incidentes de CCL e DA foram os participantes que apresentavam pelo menos uma visita de seguimento no período de oito anos a partir da linha de base (N = 245) e as análises estatísticas foram baseadas no diagnóstico estabelecido na última visita de seguimento. Para os falecidos durante o período, dados retrospectivos foram obtidos através de uma entrevista telefônica com um informante confiável. Os dados clínicos e demográficos de linha de base foram utilizados para cálculo dos fatores preditivos dos desfechos do estudo. Para a segunda análise – risco de conversão de CCL para DA – trajetórias do CCL, a amostra foi composta dos 21 indivíduos que desenvolveram CCL e 220 indivíduos cognitivamente normais (N = 241). Resultados: Os resultados da primeira análise mostraram taxa de incidência de CCL de 13,2 por 1.000 pessoas-ano e incidência de DA de 14,8 por 1.000 pessoas-ano. O desenvolvimento de prejuízo cognitivo foi associado com educação (razão de chance [RC] = 0,86) e o escore do MEEM de base (RC = 0,81). Os resultados da segunda análise mostraram que dos 21 sujeitos com CCL, 38% desenvolveram demência, 24% permaneceram estáveis e 38% melhoraram. A taxa de conversão anual para DA foi de 8,5%, CCL foi associado significativamente a maior risco de conversão para DA (HR = 49,83; p = 0,004), mesmo ajustado para idade, escolaridade, sexo e escore no MEEM. Conclusão: A incidência de DA nessa amostra foi maior do que a descrita em estudo prévio realizado no Brasil, mas está dentro da variabilidade observada internacionalmente. Escores mais baixos no Mini Exame do Estado Mental na linha de base, mesmo que dentro da normalidade, e níveis mais baixos de educação foram preditores da ocorrência de prejuízo cognitivo. Quanto à trajetória do CCL, independentemente da heterogeneidade observada, os participantes com CCL do tipo Alzheimer apresentaram risco significativamente maior de desenvolver demência na DA, demonstrando o impacto do uso destes critérios que enfatizam o comprometimento da memória episódica de longo prazo e buscam identificar sujeitos com maior probabilidade de ser portadores de patologia Alzheimer. === Background: The increase of the rates of age-related diseases as dementia, especially Alzheimer's disease (AD), is projected with the aging of the world population. Subjects with Mild Cognitive Impairment (MCI) are considered a population at risk for developing dementia. However, MCI incidence rates and rates of conversion to dementia have shown considerable variability that could be partially attributed to characteristics of the sample and to different criteria. Objective: To determine the incidence of dementia and mild cognitive impairment in a cohort of community-based healthy elderly individuals; to determine the demographic, clinical and social variables associated with the development of cognitive impairment; and to assess the risk of progression of individuals with mild cognitive impairment to dementia compared with cognitively normal subjects. Methods: Data were derived from a cohort of elderly community residents (N = 345), who were initially healthy and independent (PALA – Porto Alegre Longitudinal Aging – study). The follow-up of a maximum of eight years was used to evaluate the incidence of AD and MCI. To evaluate the progression of MCI to dementia due to AD we set off the 10-year follow-up, including the previous 8-year of the first analysis, and consider the maximum of 70 months (mean 45 months) for these new outcomes. Participants who met the inclusion criteria of the study and consented to participate were evaluated with a detailed clinical interview consisted of demographic, clinical and social variables. Psychiatric symptoms were assessed with the SRQ scale (Self Report Questionnaire), the MADRS (Montgomery-Asberg Depression Rating Scale), and the Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (4th edition, DSM-IV) criteria for Major Depression. Cognitive assessment was checked with the Mini Mental State Examination (MMSE) and the Clinical Dementia Rating Scale (CDR). Independence for the activities of daily living was assessed with the ADL scale (Activities of Daily Living). Incident cases of probable Alzheimer's disease were assigned through the DSM-IV and the NINCDS-ADRDA diagnostic criteria, with the additional designation from Kawas and colleagues of consistent AD. Detection of Mild Cognitive Impairment for the first analysis was carried out with the MCI Mayo Clinic criteria. The MCI of the Alzheimer type criteria (or Prodromal AD) were used for the second analysis, incorporating available data of the sample and the ongoing evolution of the criteria. The possible MCI trajectories were classified into three categories: conversion, stabilization, and reconversion. The subjects for the first analysis – MCI and AD incidence – were the participants who had at least one follow-up visit in the 8-year period from the baseline (N = 245), and the statistical analyzes were based on the diagnosis established in last follow-up interview. For the deceased during the period, retrospective data were obtained through a telephone interview with a knowledgeable collateral source focusing on dementia. The baseline clinical and demographic data were analyzed as predictors of the study outcomes. For the second analysis – risk of MCI progression to AD, and MCI trajectories – the sample was composed of 21 individuals who developed MCI and 220 cognitively normal subjects (N = 241). Results: The results of the first analysis showed the MCI incidence rate of 13.2 per 1,000 person-years and the AD incidence of 14.8 per 1,000 person-years. The development of cognitive impairment was associated with education (odds ratio [OR] = 0.86) and baseline MMSE scores (OR = 0.81). The results of second analysis showed that of the 21 MCI subjects, 38% developed dementia, 24% remained stable, and 38% improved. The annual AD conversion rate was 8.5%, and MCI was significantly associated with increased risk of progression to AD (HR = 49.83; p = 0.004), even adjusted for age, education, gender and MMSE scores. Conclusion: The AD incidence in this sample was higher than that described in a previous study carried out in Brazil, but was within the international estimates. Lower baseline scores on the Mini Mental State Examination, although within the normal range, and lower levels of education were predictors of cognitive impairment. Regardless the observed heterogeneity of the MCI trajectories, participants with MCI of the Alzheimer type showed significantly higher risk of developing dementia due to AD, demonstrating the impact of the emphasis on the episodic long-term memory impairment of the criteria, which finally searches to identify those individuals more likely to have Alzheimer's pathology. |
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Objetivos: Determinar a incidência de demência e Comprometimento Cognitivo Leve em uma coorte de idosos saudáveis de base comunitária; determinar as variáveis demográficas, clínicas e sociais associadas ao desenvolvimento de prejuízo cognitivo, e avaliar o risco de progressão dos indivíduos com Comprometimento Cognitivo Leve para demência comparada com sujeitos cognitivamente normais. Métodos: Os dados foram derivados de uma coorte de idosos residentes na comunidade (N = 345), inicialmente saudáveis e independentes (Estudo PALA - Porto Alegre Longitudinal Aging - study). O seguimento inicial com duração máxima de oito anos teve o objetivo de avaliar a incidência de DA e CCL. Para avaliar a progressão de CCL para DA partimos de 10 anos de seguimento, incluindo os oito anos da primeira análise e consideramos um máximo de 70 meses (média de 45 meses) para avaliar a ocorrência dos novos desfechos. Os participantes que preencheram os critérios de inclusão do estudo e consentiram em participar foram avaliados com uma detalhada entrevista clínica composta de variáveis demográficas, clínicas e sociais. Os sintomas psiquiátricos foram avaliados pela escala SRQ - Self Report Questionnaire, escala MADRS - Montgomery-Asberg Depression Rating Scale e aplicados os critérios para depressão maior do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (4ª Edição; DSM-IV). O Mini Exame do Estado Mental (MEEM) e a Escala Clínica de Demência (CDR – Clinical Dementia Rating) foram aplicados para avaliação cognitiva. Adicionalmente a independência para as atividades da vida diária foram acessadas pela escala ADL - Activities of Daily Living. Para diagnóstico dos casos incidentes de doença de Alzheimer foi utilizado os critérios diagnósticos do DSM-IV e do NINCDS/ADRDA, associado à descrição dos critérios de Kawas para DA consistente. Para diagnóstico de Comprometimento Cognitivo Leve, o critério da Clínica Mayo foi aplicado para a primeira análise, e o critério para CCL do tipo Alzheimer (ou DA prodrômica) foi utilizado para a segunda análise tendo em vista a incorporação de dados disponíveis e a evolução dos critérios. As trajetórias possíveis do CCL foram classificadas em três categorias: conversão, estabilização e reconversão. Os sujeitos considerados para a primeira análise - casos incidentes de CCL e DA foram os participantes que apresentavam pelo menos uma visita de seguimento no período de oito anos a partir da linha de base (N = 245) e as análises estatísticas foram baseadas no diagnóstico estabelecido na última visita de seguimento. Para os falecidos durante o período, dados retrospectivos foram obtidos através de uma entrevista telefônica com um informante confiável. Os dados clínicos e demográficos de linha de base foram utilizados para cálculo dos fatores preditivos dos desfechos do estudo. Para a segunda análise – risco de conversão de CCL para DA – trajetórias do CCL, a amostra foi composta dos 21 indivíduos que desenvolveram CCL e 220 indivíduos cognitivamente normais (N = 241). Resultados: Os resultados da primeira análise mostraram taxa de incidência de CCL de 13,2 por 1.000 pessoas-ano e incidência de DA de 14,8 por 1.000 pessoas-ano. O desenvolvimento de prejuízo cognitivo foi associado com educação (razão de chance [RC] = 0,86) e o escore do MEEM de base (RC = 0,81). Os resultados da segunda análise mostraram que dos 21 sujeitos com CCL, 38% desenvolveram demência, 24% permaneceram estáveis e 38% melhoraram. A taxa de conversão anual para DA foi de 8,5%, CCL foi associado significativamente a maior risco de conversão para DA (HR = 49,83; p = 0,004), mesmo ajustado para idade, escolaridade, sexo e escore no MEEM. Conclusão: A incidência de DA nessa amostra foi maior do que a descrita em estudo prévio realizado no Brasil, mas está dentro da variabilidade observada internacionalmente. Escores mais baixos no Mini Exame do Estado Mental na linha de base, mesmo que dentro da normalidade, e níveis mais baixos de educação foram preditores da ocorrência de prejuízo cognitivo. Quanto à trajetória do CCL, independentemente da heterogeneidade observada, os participantes com CCL do tipo Alzheimer apresentaram risco significativamente maior de desenvolver demência na DA, demonstrando o impacto do uso destes critérios que enfatizam o comprometimento da memória episódica de longo prazo e buscam identificar sujeitos com maior probabilidade de ser portadores de patologia Alzheimer. Background: The increase of the rates of age-related diseases as dementia, especially Alzheimer's disease (AD), is projected with the aging of the world population. Subjects with Mild Cognitive Impairment (MCI) are considered a population at risk for developing dementia. However, MCI incidence rates and rates of conversion to dementia have shown considerable variability that could be partially attributed to characteristics of the sample and to different criteria. Objective: To determine the incidence of dementia and mild cognitive impairment in a cohort of community-based healthy elderly individuals; to determine the demographic, clinical and social variables associated with the development of cognitive impairment; and to assess the risk of progression of individuals with mild cognitive impairment to dementia compared with cognitively normal subjects. Methods: Data were derived from a cohort of elderly community residents (N = 345), who were initially healthy and independent (PALA – Porto Alegre Longitudinal Aging – study). The follow-up of a maximum of eight years was used to evaluate the incidence of AD and MCI. To evaluate the progression of MCI to dementia due to AD we set off the 10-year follow-up, including the previous 8-year of the first analysis, and consider the maximum of 70 months (mean 45 months) for these new outcomes. Participants who met the inclusion criteria of the study and consented to participate were evaluated with a detailed clinical interview consisted of demographic, clinical and social variables. Psychiatric symptoms were assessed with the SRQ scale (Self Report Questionnaire), the MADRS (Montgomery-Asberg Depression Rating Scale), and the Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (4th edition, DSM-IV) criteria for Major Depression. Cognitive assessment was checked with the Mini Mental State Examination (MMSE) and the Clinical Dementia Rating Scale (CDR). Independence for the activities of daily living was assessed with the ADL scale (Activities of Daily Living). 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For the deceased during the period, retrospective data were obtained through a telephone interview with a knowledgeable collateral source focusing on dementia. The baseline clinical and demographic data were analyzed as predictors of the study outcomes. For the second analysis – risk of MCI progression to AD, and MCI trajectories – the sample was composed of 21 individuals who developed MCI and 220 cognitively normal subjects (N = 241). Results: The results of the first analysis showed the MCI incidence rate of 13.2 per 1,000 person-years and the AD incidence of 14.8 per 1,000 person-years. The development of cognitive impairment was associated with education (odds ratio [OR] = 0.86) and baseline MMSE scores (OR = 0.81). The results of second analysis showed that of the 21 MCI subjects, 38% developed dementia, 24% remained stable, and 38% improved. The annual AD conversion rate was 8.5%, and MCI was significantly associated with increased risk of progression to AD (HR = 49.83; p = 0.004), even adjusted for age, education, gender and MMSE scores. Conclusion: The AD incidence in this sample was higher than that described in a previous study carried out in Brazil, but was within the international estimates. Lower baseline scores on the Mini Mental State Examination, although within the normal range, and lower levels of education were predictors of cognitive impairment. 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