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Previous issue date: 2011 === O objetivo deste estudo foi compreender os índios Xukuru, a partir da noção de continuidade
do self que, segundo Chandler e Colaboradores, diz respeito ao processo de se reconhecer a
mesma pessoa ou de resolver o paradoxo de continuar o mesmo, apesar das mudanças
inevitáveis ocorridas no decorrer do tempo. Chandler e Lalonde (1998, 2008, no prelo )
apontam em suas pesquisas que os aborígines do Canadá foram perdendo, ao longo da história
de colonização do seu povo, o senso de pertencimento e envolvimento em relação ao local
onde vivem. Nesse sentido, a percepção de uma identidade desconexa do contexto cultural
pode favorecer dificuldades para resolver o dilema da continuidade na mudança. Sendo assim,
os indivíduos necessitam de uma justificativa para persistirem através do tempo, mesmo
diante de tantas transformações. Ao refletir dessa forma, pode-se compreender que a
continuidade passa a ser um aspecto constitutivo do self e da cultura, necessitando assim de
conexão entre passado, presente e futuro. Quando uma perturbação tal dificulta esta conexão,
o suicídio, transtornos psiquiátricos e até envolvimento com drogas, aparecem como uma
atitude que refletem uma falta de perspectiva e compromisso com si mesmo e com a cultura a
qual pertence. De forma semelhante ao que se observou em relação aos sujeitos da pesquisa
de Chandler, o povo Xukuru passou por intensas mudanças, ao longo de sua história,
resultando em conflitos e mortes. Em consequência, eles foram expulsos de seu território, só
retomando há pouco mais de duas décadas, podendo estes acontecimentos terem favorecido
processos de dificuldade em resolver o dilema de continuar o mesmo frente às mudanças
inevitáveis da vida. Sendo assim, a análise dessa população, a partir de uma perspectiva
dialógica, enfrenta o desafio de abarcar a dinâmica e poder construtivo do diálogo. Os
resultados emergiram da discussão de um grupo focal (GF), composto de onze índios Xukuru
de Pesqueira, Pernambuco. Esta discussão, construída coletivamente, versou sobre o dilema
continuidade versus mudança desses indivíduos. O diálogo foi analisado de acordo com as
relações estabelecidas entre o posicionamento das falas dos participantes, destacando-se o
dilema proposto, o framing e a circulação de ideias. Observamos que o dilema proposto a
continuidade e mudança desses indivíduos assumiu a forma de uma discussão aberta. O
framing caracterizou-se como um diálogo de reflexões de suas vidas e tradições. Com relação
à circulação de ideias, identificamos cinco tópicos contendo alusão a diversos conteúdos
semânticos relativos à continuidade desses indivíduos frente às mudanças resultantes do
processo de colonização sofrido . Investigamos a trajetória tomada por estes tópicos e suas
modificações no diálogo sobre o dilema referido. A análise aponta para o uso de citações
literais de frases relembrados por eles, ao falar sobre o cacique falecido da aldeia. Foram
identificados padrões globais de temas que exploram um conhecimento social compartilhado
que sugerem representações sociais, razoavelmente estáveis, dos fatos traumáticos ocorridos.
Evidenciou-se um padrão temático recorrente: a perseguição sofrida e as lutas travadas para
retomada do território e de seus direitos. Todavia, sugere-se que os indivíduos diferem nas
possibilidades de resolverem o dilema de continuarem os mesmos apesar das marcantes
mudanças sofridas. Encontraram-se padrões de resistência à mudança ao lado de uma maior
flexibilidade em aceitá-las e, assim, desenvolverem perspectivas para o futuro
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