"Vem brincar na rua!": entre o quilombo e a educação infantil : capturando expressões, experiências e conflitos de crianças, quilombolas no entremeio desses contextos

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação, Florianópolis, 2014. === Made available in DSpace on 2015-02-05T21:01:33Z (GMT). No. of bitstreams: 1 328604.pdf: 5413335 bytes, checksum: 20d4a954f4a4f057721b8ef660333d3...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Paula, Elaine de
Other Authors: Universidade Federal de Santa Catarina
Format: Others
Language:Portuguese
Published: 2015
Subjects:
Online Access:https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/129381
Description
Summary:Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação, Florianópolis, 2014. === Made available in DSpace on 2015-02-05T21:01:33Z (GMT). No. of bitstreams: 1 328604.pdf: 5413335 bytes, checksum: 20d4a954f4a4f057721b8ef660333d37 (MD5) Previous issue date: 2014 === Esta investigação teve como motivo central compreender as relações educativas desenvolvidas em dois quilombos e em duas salas de Educação Infantil da rede pública municipal da cidade de Garopaba - Santa Catarina, para o que foi selecionado um grupo de sete crianças quilombolas (três meninas e quatro meninos) com idades situadas entre quatro e seis anos de idade como sujeitos principais da pesquisa. Ainda tomaram parte na pesquisa um grupo de vinte crianças não moradoras das comunidades quilombolas, mas integrantes das salas de Educação Infantil pesquisadas. Compuseram o corpus de analise da pesquisa: o lugar ocupado pelas crianças quilombolas nos dois contextos sociais em que transitam (quilombo e Educação Infantil) e suas manifestações e expressões diante das relações educativas (interações, normas e regras de sociabilidade) que estabelecem entre si e com as outras crianças, bem como com os adultos; um conjunto de significações pelo qual as crianças produzem a cultura infantil, em especial as brincadeiras, a identidade (autoestima, formação identitária, confronto com constrangimentos), a autonomia, a independência; o pertencimento à terra (territorialidade) e as relações sociais que estabelecem com outros sujeitos. A fim de apreender os diferentes aspectos que ocorriam nos ambientes investigados e obter a máxima compreensão possível dos fenômenos, foi empreendida uma pesquisa de cunho qualitativo e etnográfico, por meio da observação participante e a estada prolongada nos campos de pesquisa. Como estratégia para alcançar os objetivos propostos, foram utilizados diferentes procedimentos: registro escrito com base nas observações realizadas, entrevistas com os adultos, registro fonográfico e em vídeo, registro fotográfico, oficinas, moradia (da pesquisadora) em um dos quilombos por 40 dias. A perspectiva teórica principal direcionou-se para a Sociologia da Infância, cujos estudos tomam crianças como sujeitos sociais e competentes para dizer de si mesmas, como também para a Antropologia que evidencia a necessidade de perceber a alteridade das crianças frente a outros sujeitos. A investigação reafirmou algumas das hipóteses iniciais: há especificidades nos discursos, nas expressões e nas práticas educativas (institucionalizadas ou não) presentes em diferentes realidades culturais que, a depender da raiz de origem, marcam o pertencimento cultural das crianças; a dificuldade de lidar com as diferenças culturais no espaço institucionalizado se deve ao fato de não reconhecermos como legítimo tudo aquilo que está além das fronteiras do projeto hegemônico da sociedade contemporânea; as crianças quilombolas sofremconstrangimentos na relação com as demais crianças no espaço educativo. Ao final, a pesquisa evidencia que as crianças moradoras dos quilombos revelam um alto grau de cumplicidade entre seu grupo de pertença étnica, na formulação de argumentos e estratégias quando em confronto com crianças não-quilombolas, não se deixando submeter passivamente, especialmente nos contextos institucionalizados de Educação Infantil. Reagindo crítica e criativamente às tentativas de exclusão, demonstram autoestima e pertencimento étnico, ao mesmo tempo em que reafirmam suas especificidades e promovem a construção de uma cultura infantil quilombola. Finalmente, procura-se ressaltar que há infâncias que se distinguem por influência de seus contextos culturais e geográficos de origem. Desse modo, práticas educativas institucionalizadas devem fundamentar-se em projetos pedagógicos que levem em conta a perspectiva da diferença e da diversidade .<br> === Abstract : This investigation have as its principal motive to comprehend the educational relations developed in two quilombos and two Childhood Education's classes from the municipal public system in the city of Garopaba - Santa Catarina, in order to do so, a group of seven quilombola children (three girls and four boys) with ages between four and six years old was selected as the main research's individuals. Besides, a group of twenty children that do not inhabit the quilombola communities, but study in the same researched classes, took part of the research. The research?s analysis corpus was composed by: the place occupied by the quilombola children in both social contexts where they transit (quilombo and Childhood Education) and their manifestations and expressions in front of the educational relations (interactions, principles and rules of sociability) which they establish between themselves and with the other children, as well as the adults; a whole complex of significations through which the children produce the infant culture, specially the children's play, the identity (self-steam, identity's formation, confront against constraint), the autonomy, the independence; the belonging towards the land (territoriality) and the social relations they establish with other individuals. In order to apprehend the different aspects that occurred in the investigated ambiences and obtain the maximal phenomenal comprehensions, a ethnographical and qualitative research was undertaken, through participant observation and a long stay on the research fields. As an strategy to achieve the proposed objectives, different procedures were employed: written register based on the observations, interviewing with adults, phonographic and video recordings, photographic recording, workshops, inhabitance (of the researcher) in one of the quilombos for 40 days. The main theoretical perspective was directed to the Childhood Sociology, whose studies take children as social and competent individuals to tell about themselves, likewise the Anthropology that evidences the need to perceive the children's alterity face to other individuals. The investigation reassured some of the initial hypothesis: there are specificities in the speechs, expressions and educative practices (institutionalized or not) that are present in different cultural realities that, depending on the origin, designate the children's cultural belonging; the difficulty to deal with the cultural differences on the institutionalized space is due to the fact that we do not recognize as legitimate anything beyond the frontiers of the contemporary society hegemonic project; the quilombola children suffer constraints in therelation with other children in the educational space. In the end, the research evidences that children who inhabit quilombos reveal a high level of complicity with their ethnical group, in the arguments' formulation and strategies when there is a confront with non-quilombola children, not letting themselves to passively submit, especially in institutionalized contexts of Childhood Education. Reacting critic and creatively to exclusion attempts, they demonstrate self-steam and ethnical belonging, but at the same time they reassure their specificities and promote the construction of a quilombola infant culture. Finally, we try to highlight that there are childhoods which distinguish themselves by the influence of their original geographic and cultural contexts. Thus, institutionalized educational practices must found themselves on pedagogical projects that take on account the diversity and difference perspective.