Summary: | A impossibilidade de decidir é apresentada ao leitor em Bouvard e Pécuchet, de Gustave Flaubert, sob diversos aspectos, evidenciando a reiteração da ideia de impasse, entendido como situação que atinge pontos de solução difícil ou aparentemente impossível. Associados à narrativa, à leitura, enquanto ato, e à escrita, enquanto processo, os impasses sucessivos aproximam-se do conceito de labirinto, colocando em movimento permanências e rupturas de vertente literária fecunda, descrita por Hugh Kenner em The Stoic Comedians. Abrindo espaço para a presença de opiniões contraditórias e, mais que isso, para a dificuldade de sua reconciliação, é sugerida uma quebra da lógica causal, numa narrativa não mais fundada em eventos, mas no tratamento do material linguístico. Abordam-se aqui reflexões teóricas sobre o funcionamento e os efeitos do texto estudado, levando em conta os questionamentos recentes sobre os paradoxos da ficção e os limites da narrativa, tomando por base um enfoque múltiplo. A bêtise, o aspecto enciclopédico do texto, a cópia e a comicidade servem como pontos de partida, com base na ótica da mobilização de saberes. Finalmente, são traçados paralelos entre procedimentos do texto flaubertiano e alguns procedimentos adotados desde o final do século 19 e ao longo do século 20 por artistas de várias formas de expressão, buscando estabelecer possíveis diálogos.
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The impossibility of deciding (undecidability) is presented to the reader in Bouvard and Pécuchet, by Gustave Flaubert, from different perspectives, evidencing the repetition of the idea of impasse, understood as a situation that has a difficult or seemingly impossible solution. Associated to the narrative, the reading act, and the writing process, the successive impasses relate to the concept of labyrinth, setting in motion continuities and ruptures of a rich literary lineage, described by Hugh Kenner in The Stoic Comedians. While allowing conflicting opinions to coexist and, more than that, allowing for the difficulty of their reconciliation, disruption of causal logic is suggested, resulting in a narrative no longer based on events, but in the treatment of linguistic material. Theoretical considerations on the functioning and the effects of the text studied are addressed, taking into account the recent reflections about the paradoxes of fiction and the limits of narrative, from a manifold perspective. The starting points are the bêtise, the encyclopedic character, Copy and the comic aspect of the novel, always having the use of knowledge as focal point. Finally, parallels between flaubertian procedures and some procedures adopted since the late 19th century and throughout the 20th century by artists of various forms of expression are drawn, seeking to establish possible dialogues.
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