\'Quase\' como antes: a (des)construção das representações de infância da classe trabalhadora na literatura infantil e juvenil
Este trabalho visa a apresentar um estudo investigativo do processo de construção e desconstrução das representações da infância da classe trabalhadora na literatura infantil e juvenil inglesa e brasileira. Para tanto, estabelecemos, a priori, no Capítulo I, as bases conceituais de nosso trabalh...
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Other Authors: | |
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Published: |
Universidade de São Paulo
2014
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Classe trabalhadora
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Classe trabalhadora
Infância Literatura infantil Literatura juvenil Representação Childhood Children's literature Juvenile literature Representation Working class Fabiana Valeria da Silva Tavares \'Quase\' como antes: a (des)construção das representações de infância da classe trabalhadora na literatura infantil e juvenil |
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Este trabalho visa a apresentar um estudo investigativo do processo de construção e desconstrução das representações da infância da classe trabalhadora na literatura infantil e juvenil inglesa e brasileira. Para tanto, estabelecemos, a priori, no Capítulo I, as bases conceituais de nosso trabalho, bem como tratamos das esferas culturais, econômicas, políticas, ideológicas que propiciaram o surgimento do conceito de infância da classe operária durante a Revolução Industrial, e investigamos de que forma interesses de formação da mão de obra trabalhadora e movimentos sociais e filantrópicos, assim como obrigações legislativas fizeram com que a jornada de trabalho infantil fosse paulatinamente diminuída e os diversos tipos de ensino fossem instaurados, de acordo com o contexto socioeconômico em questão. A seguir, a tentativa de traçar um perfil literário histórico e social que demonstre as diversas representações da infância da classe trabalhadora na Inglaterra e no Brasil ou a ausência delas --, procedemos à análise de obras literárias representativas da condição da criança que fosse filha de trabalhadores ou ela mesma trabalhadora. Assim, no Capítulo II, iniciamos nossa exploração através da análise de Kim, de Rudyard Kipling, e O Jardim Secreto, de Frances Hodgson Burnett, bem como de Os meninos e o trem de ferro, de Edith Nesbit, para discutirmos representações de classe e infância entre as personagens, bem como sua relação com o espaço habitado e a relação dialética entre base e superestrutura existentes tanto na literatura relativa à colônia inglesa quanto ao território inglês, e então partimos para a análise de Saudade, de Tales de Andrade, como obra exponencial do projeto político-pedagógico de uma República ainda em construção e carente da formação de uma identidade nacional, e colocamos em evidência as relações entre o protagonista e as demais personagens e o espaço do campo e da cidade, como forma de ressaltar a visão utópica e idílica da comunhão da criança com a natureza como base formadora ideal de uma civilização. No capítulo III, avançamos na história para abordarmos Ballet Shoes, de Noel Streatfeild, primeiro livro de uma série das irmãs Fossil, adotadas por um arqueólogo na Londres dos anos 1930 e que, diante do desaparecimento deste, se vêem forçadas a trabalhar para garantir a subsistência. Neste contexto, exploramos questões de cunho social e histórico e discutimos representação de classe, infância e trabalho, numa tentativa de estabelecermos um ponto de diálogo com o conto Negrinha, de Monteiro Lobato, e aí retomarmos, no contexto nacional de uma república herdeira de uma tradição escravocrata, a relação entre família, trabalho e infância na existência da protagonista. Ainda na discussão da relação de infância, classe e trabalho, o Capítulo IV apresenta uma análise de A fantástica fábrica de chocolate, de Roald Dahl, e Açúcar amargo, de Luiz Puntel, para contrapor as visões do modo como a criança da classe trabalhadora volta a ter sua infância cada vez menos idealizada e mais inserida na realidade adulta do trabalho, da desestrutura familiar, da falta de recursos materiais e da necessidade de garantir sua subsistência. O Capítulo V apresenta não obras emblemáticas ou definitivas sobre o tema, mas novas possibilidades de leitura social inglesa e brasileira da infância da classe trabalhadora e do crescimento de jovens em tais contextos, e a forma como a descoberta de cada um se dá em tais ambientes. Para tanto, apresentamos uma análise de Reviravolta, de Damian Kelleher, e Jardim do céu, de Edison Rodrigues Filho. Com este caminho percorrido, compreendemos que houve, de fato, um processo de construção de uma infância da classe trabalhadora, que ora foi maquiado pelo discurso rousseauniano do bom selvagem e da inocência, ora foi calado em detrimento da expansão de uma literatura infantil e juvenil mais centrada na figura da criança sacralizada, nos termos de Viviana Zelizer (1985), para então voltar a figurar, a partir principalmente dos anos 1980, não como representação de uma classe, mas como ser constituinte de uma sociedade multifacetada que já não comporta, há muito, mascaramentos sociais ou políticos em favor da propaganda de um ideal inexistente
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The present study aims to investigate the construction and deconstruction of the representations of working-class childhood in English and Brazilian children\'s and juvenile literature. We depart from the presentation and discussion, in Chapter I, of the conceptual bases of the investigation, and of the cultural, economic, political and ideological spheres that led to the emergence of the concept of childhood in the working class context during the Industrial Revolution. In this Chapter we also discuss how the interests involved in the training of working class manpower, in social and philanthropic movements and in legislative responsibilities that gradually imposed the reduction of childrens working hours imposed the implementation of several forms of school education according to the socioeconomic context involved. The following step is a tentative historical literary and social survey pointing out the various representations of working-class childhood in England and Brazil - or their absence thereof; we, then, proceed to the analysis of literary works representative of the condition of the children who were either born to working class families or were themselves workers. Our exploration begins, in Chapter II, with the analyses of Kim, by Rudyard Kipling, of The Secret Garden, by Frances Hodgson Burnett, and of The Railway Children, by Edith Nesbit, aiming to discuss the representations of class and childhood among the characters, their relationship with the living space and the dialectical relationship between base and superstructure both in the context of the English colonial literature and of the English mainstream literature, and then we proceed to the analysis of Saudade, by Tales de Andrade, an exponent of the political-pedagogical project of a Republic still under construction and lacking the formation of a national identity; we intend to highlight the relationship between the protagonist and the other characters and between the space of the countryside and of the city as a way of emphasizing the utopian and idyllic vision of Child communion with nature as forming the basis of an ideal civilization. In Chapter III, we apply the historical approach to the analysis of Ballet Shoes, by Noel Streatfeild, the first book of a series about the Fossil sisters, adopted by an archaeologist in London in 1930 and, as a result of his disappearance, forced to work to ensure livelihood. In this context, we discuss issues of a social nature and history and of class representation and child labor, in an attempt to establish a parallel with the short story Negrinha, by Lobato. Then, in the national context of a republic heir to a slave tradition, we examine the relationship between family, work and childhood in the protagonists life. Still in the realm of the discussion of the relationship of childhood, class and labor, Chapter IV presents an analysis of Charlie and the Chocolate Factory, by Roald Dahl, and of Açúcar amargo, by Luiz Puntel, thus showing how the working class children have their childhood less and less idealized and more and more embedded in the adult reality of work, family dysfunction, lack of material resources and need to secure their livelihoods. Rather than canonical or definitive works on the subject, Chapter V discusses new possibilities for English and Brazilian social readings of working-class childhood, for the growth of young people in such contexts, and for the discovery of how each one of them develops in such environments. For this purpose, we present an analysis of Life, Interrupted, by Damian Kelleher, and of Jardim do céu, by Edison Rodrigues Filho. Having thus completed this analytical and investigative trajectory, we conclude that the construction of a working-class childhood was sometimes disguised by Rousseau\'s noble savage and innocence discourse, and sometimes silenced in detriment of the expansion of a child and youth literature more focused in the sacralized figure of the child, as discussed by Viviana Zelizer (1985). The construction of a working class childhood re-appears mostly from the 1980s on, not exactly as a representation of a class, but as a component of a multifaceted society that no longer admits socially or politically concealing propaganda in favor of non-existent ideals
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ndltd-IBICT-oai-teses.usp.br-tde-22012015-1822202019-01-21T23:27:31Z \'Quase\' como antes: a (des)construção das representações de infância da classe trabalhadora na literatura infantil e juvenil \'Almost\' as before: the (de)construction of childhood representations of the working class in young and youth literature Fabiana Valeria da Silva Tavares Jose Nicolau Gregorin Filho Salete de Almeida Cara João Luis Cardoso Tápias Ceccantini Maria Zilda da Cunha Idmea Semeghini Prospero Machado Siqueira Classe trabalhadora Infância Literatura infantil Literatura juvenil Representação Childhood Children's literature Juvenile literature Representation Working class Este trabalho visa a apresentar um estudo investigativo do processo de construção e desconstrução das representações da infância da classe trabalhadora na literatura infantil e juvenil inglesa e brasileira. Para tanto, estabelecemos, a priori, no Capítulo I, as bases conceituais de nosso trabalho, bem como tratamos das esferas culturais, econômicas, políticas, ideológicas que propiciaram o surgimento do conceito de infância da classe operária durante a Revolução Industrial, e investigamos de que forma interesses de formação da mão de obra trabalhadora e movimentos sociais e filantrópicos, assim como obrigações legislativas fizeram com que a jornada de trabalho infantil fosse paulatinamente diminuída e os diversos tipos de ensino fossem instaurados, de acordo com o contexto socioeconômico em questão. A seguir, a tentativa de traçar um perfil literário histórico e social que demonstre as diversas representações da infância da classe trabalhadora na Inglaterra e no Brasil ou a ausência delas --, procedemos à análise de obras literárias representativas da condição da criança que fosse filha de trabalhadores ou ela mesma trabalhadora. Assim, no Capítulo II, iniciamos nossa exploração através da análise de Kim, de Rudyard Kipling, e O Jardim Secreto, de Frances Hodgson Burnett, bem como de Os meninos e o trem de ferro, de Edith Nesbit, para discutirmos representações de classe e infância entre as personagens, bem como sua relação com o espaço habitado e a relação dialética entre base e superestrutura existentes tanto na literatura relativa à colônia inglesa quanto ao território inglês, e então partimos para a análise de Saudade, de Tales de Andrade, como obra exponencial do projeto político-pedagógico de uma República ainda em construção e carente da formação de uma identidade nacional, e colocamos em evidência as relações entre o protagonista e as demais personagens e o espaço do campo e da cidade, como forma de ressaltar a visão utópica e idílica da comunhão da criança com a natureza como base formadora ideal de uma civilização. No capítulo III, avançamos na história para abordarmos Ballet Shoes, de Noel Streatfeild, primeiro livro de uma série das irmãs Fossil, adotadas por um arqueólogo na Londres dos anos 1930 e que, diante do desaparecimento deste, se vêem forçadas a trabalhar para garantir a subsistência. Neste contexto, exploramos questões de cunho social e histórico e discutimos representação de classe, infância e trabalho, numa tentativa de estabelecermos um ponto de diálogo com o conto Negrinha, de Monteiro Lobato, e aí retomarmos, no contexto nacional de uma república herdeira de uma tradição escravocrata, a relação entre família, trabalho e infância na existência da protagonista. Ainda na discussão da relação de infância, classe e trabalho, o Capítulo IV apresenta uma análise de A fantástica fábrica de chocolate, de Roald Dahl, e Açúcar amargo, de Luiz Puntel, para contrapor as visões do modo como a criança da classe trabalhadora volta a ter sua infância cada vez menos idealizada e mais inserida na realidade adulta do trabalho, da desestrutura familiar, da falta de recursos materiais e da necessidade de garantir sua subsistência. O Capítulo V apresenta não obras emblemáticas ou definitivas sobre o tema, mas novas possibilidades de leitura social inglesa e brasileira da infância da classe trabalhadora e do crescimento de jovens em tais contextos, e a forma como a descoberta de cada um se dá em tais ambientes. Para tanto, apresentamos uma análise de Reviravolta, de Damian Kelleher, e Jardim do céu, de Edison Rodrigues Filho. Com este caminho percorrido, compreendemos que houve, de fato, um processo de construção de uma infância da classe trabalhadora, que ora foi maquiado pelo discurso rousseauniano do bom selvagem e da inocência, ora foi calado em detrimento da expansão de uma literatura infantil e juvenil mais centrada na figura da criança sacralizada, nos termos de Viviana Zelizer (1985), para então voltar a figurar, a partir principalmente dos anos 1980, não como representação de uma classe, mas como ser constituinte de uma sociedade multifacetada que já não comporta, há muito, mascaramentos sociais ou políticos em favor da propaganda de um ideal inexistente The present study aims to investigate the construction and deconstruction of the representations of working-class childhood in English and Brazilian children\'s and juvenile literature. We depart from the presentation and discussion, in Chapter I, of the conceptual bases of the investigation, and of the cultural, economic, political and ideological spheres that led to the emergence of the concept of childhood in the working class context during the Industrial Revolution. In this Chapter we also discuss how the interests involved in the training of working class manpower, in social and philanthropic movements and in legislative responsibilities that gradually imposed the reduction of childrens working hours imposed the implementation of several forms of school education according to the socioeconomic context involved. The following step is a tentative historical literary and social survey pointing out the various representations of working-class childhood in England and Brazil - or their absence thereof; we, then, proceed to the analysis of literary works representative of the condition of the children who were either born to working class families or were themselves workers. Our exploration begins, in Chapter II, with the analyses of Kim, by Rudyard Kipling, of The Secret Garden, by Frances Hodgson Burnett, and of The Railway Children, by Edith Nesbit, aiming to discuss the representations of class and childhood among the characters, their relationship with the living space and the dialectical relationship between base and superstructure both in the context of the English colonial literature and of the English mainstream literature, and then we proceed to the analysis of Saudade, by Tales de Andrade, an exponent of the political-pedagogical project of a Republic still under construction and lacking the formation of a national identity; we intend to highlight the relationship between the protagonist and the other characters and between the space of the countryside and of the city as a way of emphasizing the utopian and idyllic vision of Child communion with nature as forming the basis of an ideal civilization. In Chapter III, we apply the historical approach to the analysis of Ballet Shoes, by Noel Streatfeild, the first book of a series about the Fossil sisters, adopted by an archaeologist in London in 1930 and, as a result of his disappearance, forced to work to ensure livelihood. In this context, we discuss issues of a social nature and history and of class representation and child labor, in an attempt to establish a parallel with the short story Negrinha, by Lobato. Then, in the national context of a republic heir to a slave tradition, we examine the relationship between family, work and childhood in the protagonists life. Still in the realm of the discussion of the relationship of childhood, class and labor, Chapter IV presents an analysis of Charlie and the Chocolate Factory, by Roald Dahl, and of Açúcar amargo, by Luiz Puntel, thus showing how the working class children have their childhood less and less idealized and more and more embedded in the adult reality of work, family dysfunction, lack of material resources and need to secure their livelihoods. Rather than canonical or definitive works on the subject, Chapter V discusses new possibilities for English and Brazilian social readings of working-class childhood, for the growth of young people in such contexts, and for the discovery of how each one of them develops in such environments. For this purpose, we present an analysis of Life, Interrupted, by Damian Kelleher, and of Jardim do céu, by Edison Rodrigues Filho. Having thus completed this analytical and investigative trajectory, we conclude that the construction of a working-class childhood was sometimes disguised by Rousseau\'s noble savage and innocence discourse, and sometimes silenced in detriment of the expansion of a child and youth literature more focused in the sacralized figure of the child, as discussed by Viviana Zelizer (1985). The construction of a working class childhood re-appears mostly from the 1980s on, not exactly as a representation of a class, but as a component of a multifaceted society that no longer admits socially or politically concealing propaganda in favor of non-existent ideals 2014-08-14 info:eu-repo/semantics/publishedVersion info:eu-repo/semantics/doctoralThesis http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8156/tde-22012015-182220/ por info:eu-repo/semantics/openAccess Universidade de São Paulo Letras (Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa) USP BR reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP instname:Universidade de São Paulo instacron:USP |