Summary: | A violação consiste na penetração da boca, vagina e/ou ânus, utilizando o pénis, outras
partes do corpo ou objetos, através da intimidação, ameaça, agressão física, situação de
inconsciência ou de incapacidade da vítima para resistir (APAV, 2015). Este comportamento
está abrangido naquilo que se denomina por violência sexual e a sua prática, em Portugal,
constitui um crime punível por lei de 1 a 10 anos de prisão.
Este estudo procurou identificar as motivações do agressor sexual associadas ao ato a
violação, bem como caracterizar os mitos e distorções cognitivas acerca do mundo, dos
outros e de si próprio existentes no pensamento do agressor sexual. Adicionalmente,
indagou-se sobre o modus operandi do agressor sexual durante a violação, procurou-se
identificar as estratégias cognitivas utilizadas pelos ofensores para não admitirem a prática
da ofensa sexual e ainda perceber qual a opinião destes sobre o crime de violação.
Foi utilizada uma metodologia qualitativa baseada na realização de entrevistas
semiestruturadas a sujeitos que tivessem sido condenados pelo crime de violação. O número
total de participantes foi de 15 sujeitos, todos do sexo masculino.
A atração sexual, a vingança e o desejo de controlo e poder sobre o outro são as
motivações mais relatadas pelos entrevistados. Um número elevado dos ofensores
entrevistados apresentam mitos e distorções cognitivas relacionadas com a violência sexual,
nomeadamente uma visão estereotipada da violência e do papel da vítima na mesma. No que
concerne às racionalizações para negar a existência do crime de violação as mais utilizadas
foram a vingança e a invenção. O modus operandi utilizado é muito variado no que se refere
às estratégias e métodos para a prática da ofensa. Por último, a visão que os ofensores têm
deste crime é muito negativa incorporando sentimentos de revolta e consternação.
Concluiu-se que ofensores estão pouco instruídos sobre a problemática da violência
sexual contribuindo para a disseminação de mitos e estereótipos associados à mesma. Desta
forma, mostra-se essencial investir em intervenções psicoterapêuticas e psicoeducacionais
com esta população, tendo como objetivo a prevenção e redução da reincidência. Por fim,
indicam-se as limitações deste estudo e são sugeridas linhas orientadoras para futuras
investigações.
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