Cores da tradição: uma história do debate racial na Universidade de São Paulo (USP) e a configuração racial do seu corpo docente

Embora a fundação da Universidade de São Paulo (USP) tenha sido em 1934, os primórdios da instituição remonta a 1827, ano em que foi criada a Faculdade de Direito. Desde então a USP tem produzido conhecimento sobre o campo das relações raciais brasileiras. Esta tese propõe analisar como o debate rac...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Silva, Viviane Angélica
Other Authors: Carvalho, Marilia Pinto de
Format: Others
Language:pt
Published: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP 2015
Subjects:
USP
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-19112015-133530/
Description
Summary:Embora a fundação da Universidade de São Paulo (USP) tenha sido em 1934, os primórdios da instituição remonta a 1827, ano em que foi criada a Faculdade de Direito. Desde então a USP tem produzido conhecimento sobre o campo das relações raciais brasileiras. Esta tese propõe analisar como o debate racial atravessa a história da universidade, buscando compreender qual tem sido a participação docente negra e não-negra nesse processo. Assim, a história do debate racial na USP é apresentada em quatro momentos: O primeiro compreende as discussões sobre a questão racial no Brasil empreendidas por duas instituições, as Faculdades de Direito e Medicina, incorporadas à universidade em 1934. O segundo momento é considerado a partir da história da Faculdade de Filosofia Ciências, sobretudo no que diz respeito aos debates empreendidos pela chamada \"Escola Paulista de Sociologia\", sob a batuta de Florestan Fernandes. Para entender o terceiro momento é preciso ter em conta uma lacuna no debate racial coincidente com a Ditadura Militar que trouxe tempos difíceis para a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras. Assim, a discussão racial esteve em estado de latência na Sociologia da USP por quase duas décadas, apesar de timidamente abrigada na Antropologia. Destaca-se a importância da trajetória do professor Kabengele Munanga para este momento da história do debate racial na instituição, na condição de herdeiro bastardo da Escola Paulista de Sociologia. O quarto momento da discussão racial na universidade ainda é corrente, e começa nos anos 90 com a recém instituída constituição de 1988. Esta década foi marcada por um incipiente, porém importante conjunto de medidas sensíveis às desigualdades raciais na universidade. Destaca-se novamente a figura do Kabengele Munanga, importante elo com o momento anterior do debate e a figura do professor Edson Moreira da USP São Carlos, em função de sua presença no Conselho de Cultura e Extensão. Por sua vez, os anos 2000 tem sido marcados por retrocessos na implementação de políticas que democratizassem o acesso da população negra na USP. Após a leitura sobre a história do debate racial na USP a tese centra-se na consideração da presença negra no corpo docente da instituição. Para tanto, apresenta-se dados sobre a configuração racial da universidade entre os anos de 2008 a 2015; bem como análises sobre um conjunto de dez trajetórias de docentes negros/as, no sentido de conhecer as estratégias, recursos, discursos e práticas de que acadêmicos/as negros/as da USP lançaram mão para tentar driblar as (im)possibilidades de acesso a um universo que tem sido cerceado à população negra: a docência da maior universidade do país. === Although the University of Sao Paulo (USP) was officially founded in 1934, the institutions deepest origins lie in the establishment of the Faculty of Law in 1827. Since then USP has been producing knowledge in the field of race relations in Brazil. This thesis proposes to analyze the way that racial debate passes through the history of the university, looking to understand the participation of both black and non-black faculty in this process. The history of racial debate at USP is presented in four moments: The first consists of discussions of the question of race within the Faculties of Law and Medicine, incorporated into the university in 1934. The second moment concerns the Faculty of Philosophy, Sciences and Literature, particularly in relation to the debates fueled by the so-called P u S f g u f Florestan Fernandes. To understand the third moment it is necessary to take into account the gap in racial debate that coincided with the military dictatorship which brought difficult times to the Faculty of Philosophy, Sciences and Literature. Due to this, racial discussions stayed in a state of latency in the field of Sociology at USP, although they were timidly sheltered by Anthropology. During this period, the trajectory of professor Kabengele Munanga stands out in the history of racial debate at the institution, as he took f b f P u S . T f u m m f u university continues today, dating from the 1990s and the influence of the recently implemented Constitution of 1988. This decade was marked by an incipient though important group of measures sensitive to racial inequality taken at the university. Once again, Kabengele Munanga, an important link to earlier moments in these debates, stands out during this phase, along with Edson Moreira of USP Sao Carlos, due to his presence on the Council for Culture and Extension. Since the year 2000, these debates have been marked by certain regressions in the implementation of policies that would have democratized access to USP for the black population. After a reading of the history of racial debate at USP the thesis will focus on the black presence in the teaching faculty of the institution. To this end, this research will present data about the racial configuration of the university between 2008 and 2015. Furthermore it will include an analysis of the trajectories of a group of ten black professors to better understand the strategies, resources, discourses and practices that black academics at USP have used to negociate the (im)possibilities of access to a universe that has long limited itself from the black population: a teaching career at the nation\'s largest university.