Estratégias do falso: realidade possível em Henry James e Machado de Assis

Surgidos na arena literária em pleno realismo, Machado de Assis e Henry James, contemporâneos entre si, apontaram em suas melhores obras um caminho diferente do preconizado pela nova escola. Esta tese procura compreender como, ao abraçar um programa estético supostamente conservador, esses escritore...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Parreira, Marcelo Pen
Other Authors: Simon, Iumna Maria
Format: Others
Language:pt
Published: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP 2007
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-20032008-104131/
Description
Summary:Surgidos na arena literária em pleno realismo, Machado de Assis e Henry James, contemporâneos entre si, apontaram em suas melhores obras um caminho diferente do preconizado pela nova escola. Esta tese procura compreender como, ao abraçar um programa estético supostamente conservador, esses escritores romperam com os padrões artísticos em voga em sua época, sem incorrer em procedimentos passadistas, mas, ao contrário, fazendo a ponte com a modernidade. Um dos caminhos é o exame da publicação francesa Revue des Deux Mondes, que ambos apreciavam. Órgão conservador, a revista foi durante décadas foco de ataques ao realismo e, depois, defensora de um realismo mitigado, que combinasse observação da realidade e a defesa do chamado ideal na arte. A análise procura aproximar a proposta estética da Revue das idéias críticas de James e de Machado, com o fito de decifrar como esses escritores conseguiram plasmar, em suas telas, um estado de coisas crepuscular, valendo-se de procedimentos expressivos inovadores. A tese investiga pontos de contato e de divergência entre os dois autores, sobretudo em seus romances The Ambassadors e Memorial de Aires, mas recorre também a uma série de outras narrativas longas e curtas. Detém-se, em especial, em obras iniciais da trajetória de ambos - Ressurreição, de Machado de Assis, e Eugene Pickering, de James. Na argumentação reúnem-se aspectos históricos e sociais em cujo cadinho formou-se a era moderna. Tais tópicos corroboram a análise de cena feita de The Ambassadors e do Memorial, em que se destacam considerações de ordem formal e de enredo. James e Machado buscam refúgio em técnicas sutis de apreensão da realidade, em que o elemento oculto tem tanto valor (ou mais) quanto o manifesto, e em que um tipo de leitura alegórica faz todo sentido. Desse modo, interessa menos uma discussão sobre conservadorismo ou progressismo, inclusive no setor das idéias, do que o desencanto que as páginas de ambos destilam em relação à civilização burguesa. É esse desencanto, ainda, plasmado na substância de expressão, que melhor se conjuga com as estratégias narrativas postas em prática por James e por Machado. === Writers Machado de Assis and Henry James - working in different countries, but at the same time - created, in their best works, a new way of doing fiction. That way was, above all, different from the one championed by the realistic school. This study strives do understand how, in a time at which realism dominated the artistic arena, both writers clinged to an allegedly conservative esthetic program, made a breakthrough in the artistic dogmas and built a bridge to modern times. One way to understand the matter is through an examination of the French publication Revue des Deux Mondes, of which both writers were fond. During years, the quite conservative magazine attacked realism and then, later, proposed a kind of softer version of it, a kind of artistic representation that combined idealism and observation of reality. Our analysis compares the esthetic doctrine evolved by the Revue with James\' and Machado\'s critical ideas. We intend, in the course of this analysis, pinpoint how these writers could paint a crepuscular state of things, nevertheless using expressively innovative techniques. The study focuses primarily on the novels The Ambassadors and Memorial de Aires in an effort to identify similarities and differences between James and Machado. It also examines many other short and long narratives written by both authors. In particular, it scrutinizes some works they did in the beginnings of their careers: Ressurreição, by Machado de Assis, and Eugene Pickering, by James. The analysis gathers together many historical and social features responsible for the birth of the modern era. They serve to corroborate the in-depth commentary on scenes taken from The Ambassadors and the Memorial, in which many technical aspects are brought to close attention. James and Machado make use of subtle techniques to depict reality, exploiting allegoric devices and probing both into the inner motives of their characters and the social forces that drive them. Thus and so, we are less interested in a discussion of conservative or progressive ideas, than in examining the disenchanted view both writers cast upon bourgeois society. After all, this disillusion, drawn together in the artistic matter, better entertains a productive arrangement with the narrative strategies started by James and Machado.